Autor: Filipe Ribeiro

Balanço final

Acabou.

Foram 18 dias de sono comprometido, vida social anulada, jornadas de 12, 13 horas em frente ao computador e à televisão. Mas valeu a pena.

Sempre vale. Jogos Olímpicos são especiais. São o que de melhor o esporte pode oferecer concentrado em duas semanas inesquecíveis.

Mas como eu não sou bom de despedidas, vou nesse post final fazer um balanço dos palpites que eu dei antes de Sochi começar. Ver o que eu acertei e o que eu errei.

Os favoritos – parte 1

Fui bem, vai. Falei que Estados Unidos, Canadá, Rússia, Noruega e Alemanha iam disputar a liderança do quadro de medalhas e eles realmente ficaram entre os seis primeiros. Eu só não esperava que a supremacia holandesa na patinação fosse suficiente para colocar o país em quinto.

A China, mesmo sem Wang Meng, ganhou seis das suas nove medalhas na pista curta. A Coreia, como eu havia apostado, ganhou todas as suas medalhas na patinação, mas não repetiu o Top 5 de 2010. A Suécia ficou com a prata no hóquei (falei que tinha chances) mas ganhou 11 das suas 15 medalhas no cross-country (também acertei essa, que era barbada).

Errei feio com Áustria e Suíça, nenhum dos dois conseguiu medalhas no salto de esqui. Os austríacos foram bem no esqui alpino e a Suíça se espalhou por seis modalidades, numa campanha surpreendente. A França foi outra que surpreendeu ganhando medalhas em seis modalidades, enquanto a Austrália, apesar de não ter nenhum ouro, continuou garimpando suas medalhas no esqui estilo livre e no snowboard.

Oito nomes pra ficar de olho

– Steven Holcomb (USA): eu apostei em dois ouros, conquistou dois bronzes.
– Martin Fourcade (FRA): ganhou dois bronzes e uma prata, e poderia ter feito mais se tivesse equipes decentes nos revezamentos.
– Tina Weirather (LIE): sofreu uma contusão ainda na fase de treinamentos e não disputou nenhuma prova, uma grande pena.
– Maria Hoefl-Rischer (GER): ganhou uma prata e um bronze, mas ficou apenas em nono na sua prova preferida, o slalom.
– Victor An (RUS): entrou para a história como primeiro atleta a vencer todas as provas da patinação de pista curta (não na mesma edição nem pelo mesmo país, entretanto). Ficou em primeiro lugar no “quadro de medalhas individual” com três ouros e um bronze.
– Natalie Geisenberg (GER): conquistou dois ouros nas duas provas que disputou. Mas essa aposta era fácil demais.
– Martins Dukurs (LAT): ficou com a prata, não foi páreo para o rival local.
– Heather Richardson (USA): minha aposta mais furada. Foi mal assim como toda a equipe americana de patinação de velocidade, que pela primeira vez em trinta anos saiu de uma edição dos Jogos sem medalha.

Quatro grandes disputas

– Noelle Pikus-Pace (USA) x Elizabeth Yarnold (GBR), skeleton: a única que aconteceu com a intensidade que eu esperava. Não que o ouro de Lizzy Yarnold tivesse sido muito ameaçado, mas a diferença entre as duas se manteve pequena em todas as descidas.
– Austríacos x Kamil Stoch (POL) x Simon Ammann (SUI), salto de esqui: o polonês não deu chances nas disputas individuais e os austríacos conseguiram o feito de perder o ouro por equipes no último salto. Ammann, que estava numa temporada mediana, foi figurante em todas as provas.
– Darya Domracheva (BLR) x Kaisa Makarainen (FIN) x Tora Berger (NOR), biatlo: a bielorrussa dominou tudo, conquistando três ouros. A finlandesa sumiu, não figurou entre as primeiras em nenhuma prova. Berger sai de Sochi com uma medalha de cada cor, mas apenas uma prata individual, levando uma surra de 37 segundos de Domracheva.
– Yu-Na Kim (KOR) x Mao Asada (JPN), patinação artística: Mao caiu em um salto e foi fortemente despontuada, terminando o programa curto em 16º lugar e conseguindo uma recuperação fantástica no programa longo. Kim ficou em primeiro no programa curto mas acabou com a prata.

 

É isso. Acabou. Obrigado a quem acompanhou comigo essa competição. Não vejo a hora de começar a próxima. E já é semana que vem! Paralimpíadas de Inverno já estão aí, batendo na porta. Até lá!

[Bobsleigh] Quartetos masculinos

Fechando a programação na pista do Complexo Sanki, ocorreram as duas últimas descidas dos quartetos. Na primeira, poucas mudanças de posição, apesar de os trenós alemães terem feito péssimas descidas e terem caído na classificação. O Brasil fez sua pior largada e por pouco não ficou em último, já que o trenó canadense que virou ontem foi bem hoje e ficou a apenas nove centésimos de segundo do Brasil. Na quarta descida a única mudança de posição entre os dez primeiros foi a Grã-Bretanha ultrapassando o Alemanha 1  ficando em quinto lugar. Rússia 1 venceu com nove centésimos de vantagem, deixando Letônia 1 em segundo e Estados Unidos 1 em terceiro.

[Esqui cross-country] Largada em massa 50km masculino

A prova mais longa do esqui cross-country começou muito estudada, com um pelotão gigante e nenhuma tentativa de fuga na primeira metade. Na passagem dos 30km a maioria dos participantes fez um pitstop para trocar os esquis, o que causou a quebra do pelotão. Matti Heikkinen (FIN), que não fez a troca, tentou uma fuga e chegou a abrir mais de vinte segundos na passagem dos 35km, mas foi neutralizado em cerca de cinco quilômetros.

O pelotão cresceu e os cinco primeiros passaram nos 48km separados por menos de um segundo, mas logo depois o esqui de Dario Cologna (SUI), que passou em quarto, quebrou e ele saiu da briga. A equipe russa disparou e colocou três atletas entre os cinco primeiros. Na subida final o sueco ficou e sobraram os três russos e Martin Johnsrud Sundby (NOR), que entraram juntos no estádio. Na última curva os três da casa dispararam e Alexander Legkov venceu, com sete décimos de vantagem para Maxim Vylegzhanin, que quase perde o segundo lugar para Ilia Chernousov, mas o photofinish mostrou que os dois chegaram com um décimo de diferença. Dois décimos atrás chegou Sundby. Cologna acabou chegando apenas em 27º, mais de um minuto atrás dos vencedores.

[Esqui alpino] Slalom masculino

A neve, que descongelava rápido e abria sulcos na pista, prejudicou as decidas de vários participantes, tanto que na primeira descida os três primeiros a entrar na pista ficaram com os três melhores tempos. Stefano Gross (ITA), 17º a descer, conseguiu no máximo empatar no terceiro lugar. O brasileiro Jhonatan Longhi foi o 97º a descer e pegou uma pista com muitos buracos. Chegou a bater forte em um deles e perdeu muito tempo, mas conseguiu completar a descida e terminou a primeira parte na 69ª posição.

As condições da pista ficaram ainda piores na segunda descida, e dos trinta primeiros, doze não completaram, incluindo Felix Neureuther (GER), Ted Ligety (USA) e Andre Mhyrer (SWE), que tinha feito o segundo melhor tempo. O pódio acabou formado por Henrik Kristoffersen (NOR), 15º na primeira descida e bronze na soma dos tempos, Marcel Hirscher (AUT), nono na primeira e prata após a segunda, e Mario Matt (AUT), que conseguiu se dar melhor na pista complicadíssima e fez o melhor tempo nas duas descidas, ficando com o ouro. Jhonatan Longhi completou a segunda descida, mas foi desclassificado porque queimou uma das portas.

[Biatlo] Revezamento 4×7,5km masculino

O Canadá abriu muito forte a prova, com seu melhor atleta, e chegou a liderar, mas Le Guellec errou quatro tiros na segunda sessão e derrubou o time. Os Estados Unidos também começaram muito bem, e se mantiveram nas primeiras posições até a terceira sessão, quando Currier errou incríveis seis tiros e afundou a equipe.

A Noruega, assim como no revezamento misto, dominou a prova, ficando junto com a Alemanha até a segunda perna e abrindo vantagem tanto no cross-country quanto no tiro. Bjoerndalen foi perfeito nas duas sessões, mas perdeu fôlego no esqui e entregou para Svendsen com apenas dois segundos de vantagem para a Alemanha.

Só que Svendsen já começou mal, permitiu que Rússia e Áustria encostassem e chegaram à última sessão de tiro os quatro juntos. Rússia e Alemanha zeraram, Áustria errou um e Noruega errou QUATRO. Svendsen teve que pagar uma volta de punição e acabou com as chances de medalha. Shipulin e Schempp disputaram a liderança até a entrada no estádio, quando o russo se colocou à frente e não permitiu a reação do alemão. Landertinger fechou em terceiro para a Áustria e Svendsen completou apenas em quarto.

 

[Patinação de velocidade] Perseguição por equipes

A semifinal feminina já começou com surpresa, com a Polônia eliminando a Rússia. Na segunda semifinal, a Holanda disparou contra o Japão e chegou sobrando, mas mesmo assim quebrou o recorde olímpico que havia sido estabelecido ontem pela mesma equipe.

Nas finais, a Holanda dominou novamente e estabeleceu novos recordes olímpicos tanto no masculino quanto no feminino. Um encerramento perfeito para uma campanha histórica do país nos Jogos. Prata para Polônia no feminino e Coreia do Sul no masculino e bronze para Rússia no feminino e Polônia no masculino.

[Snowboard] Slalom paralelo

A pista vermelha, que tanto ajudou os atletas no slalom gigante, hoje fez várias vítimas, porque se desgastou rápido demais e criou enormes buracos, fazendo todo mundo perder tempo, errar tangências e queimar bandeiras. Nas semifinais a alemã Amelie Kober e o russo Vic Wild, campeão do PGS, foras as maiores vítimas, e tiveram que largar na segunda descida mais de um segundo atrás dos rivais. Ela, que foi desclassificada já na primeira descida por perder uma bandeira, até tirou praticamente toda a diferença, mas já não tinha como se classificar. Ele, que conseguiu contornar todas as bandeiras, fez a segunda descida na pista azul e conseguiu tirar toda a desvantagem, vencendo por quatro centésimos.

Nas finais femininas as duas que desceram na pista azul venceram as primeiras descidas. Amelie Kober (GER) tinha uma vantagem de 0,44s e fez sua descida na pista vermelha apenas três décimos mais lenta que a adversária, ficando com o bronze. Na grande final a vantagem de 0,72s que Anke Karstens (GER) abriu sobre Julia Dujmovits (AUT) na pista azul não foi suficiente, e a austríaca ficou com o ouro por 0,12s.

No masculino, apesar da pista mal tratada, os dois que desceram na pista vermelha venceram as primeiras descidas. Benjamin Karl (AUT) ficou com o bronze após abrir 0,26s na primeira descida e ver o italiano perder totalmente o rumo na tentativa desesperada de alcançá-lo na segunda . Vic Wild (RUS) abriu 0,12s na primeira e quase viu Zan Kosir (SLO) passar à frente na segunda, mas acelerou no fim e ficou com o ouro, o segundo dele em Sochi.

[Esqui cross-country] Largada em massa 30km feminino

A prova foi inteiramente dominada pelas norueguesas, que lideraram o pelotão inicial e a partir da terceira volta começaram a disparar e abrir cerca de dez segundos a cada parcial. Charlotte Kalla (SWE), que conseguia acompanhar o ritmo das líderes, teve algum problema na terceira volta e caiu de 4º pra 25º, não conseguindo nem esboçar uma reação e terminando em 34º, mais de cinco minutos após a campeã.

Therese Johaug, Kristin Stoermer Steira e Marit Bjoergen se revezaram na liderança por cerca de vinte quilômetros, e os últimos 10km nem tiveram graça, porque a vantagem das norueguesas era enorme. Na última subida para retornar ao estádio, Bjoergen começou um sprint e só Johaug conseguiu acompanhá-la, mesmo que de longe. Bjoergen ficou com o ouro, 2,6s à frente de Johaug. Steira ficou um pouco pra trás mas não teve seu bronze ameaçado, para confirmar o pódio 100% norueguês que se desenhava desde os 10km.

[Patinação de velocidade em pista curta] Dia 5

500m masculino
As quartas de final tiveram três quedas e dois russos punidos. O terceiro atleta da casa a participar da prova, Victor An, foi o único a se salvar, tendo corrido a única bateria sem quedas. Ele também venceu fácil a sua bateria semifinal e já entrou na final como franco favorito. Começou a disputa de medalha atrás porque demorou a largar, mas se aproveitou da queda de um dos chineses, sozinho, pra atacar e ultrapassar todo mundo, assumindo o primeiro lugar no início da última volta e conquistando sua terceira medalha em Sochi, segunda de ouro. Dajing Wu (CHN) ficou com a prata e Charle Cournoyer (CAN) com o bronze.

1000m feminino
Duas punições nas quartas de final, exatamente para as duas únicas que caíram. A segunda, Arianna Fontana (ITA), me pareceu claramente prejudicada pela chinesa, mas os árbitros acharam que ela foi a culpada pela queda, não entendi nada. Na primeira bateria, a britânica Elise Christie teve uma recuperação fantástica, saindo de quarto pra primeiro em apenas uma volta e meia. Tentou fazer o mesmo na semifinal, mas acabou se enroscando com a chinesa, as duas caíram e as duas foram punidas. Mais uma vez não concordei com o julgamento, porque a chinesa fez o mesmo que a própria Christie já havia feito em outra prova, entrou demais na reta e não conseguiu sair pra contornar os blocos da curva sem bater. Na final, as coreanas dominaram no início ao fim, mas na última volta a chinesa Kexin Fan ultrapassou e tentou um ataque para o ouro, e pareceu ter tentado puxar a coreana que venceu a prova, a Seung-Hi Park. Não conseguiu e ficou com a prata. O bronze foi para Suk Hee Shim.

Revezamento 5000m masculino
O Canadá, que fez bobagem na semifinal, dominou a final B e venceu com folga. A final A começou com muita confusão, dos cinco atletas só o russo e o americano ficaram em pé, o cazaque ficou pra trás mas sua equipe permaneceu na terceira posição por um longo tempo até ser ultrapassada pela China. Rússia e Estados Unidos se revezaram na primeira posição até as últimas voltas, quando Victor An, de novo ele, comandou a ultrapassagem e a conquista de mais um ouro, o terceiro dele, com direito a recorde olímpico quebrado em mais de um segundo. Ouro para a Rússia, prata para os Estados Unidos e bronze para a China.

[Esqui alpino] Slalom feminino

As favoritas apareceram logo no início da primeira descida, nenhuma das que desceram após as dez primeiras sequer ameaçou as líderes. Mikaella Shiffrin (USA) fez o melhor tempo, seguida por Maria Hoefl-Riesch (GER) e Tina Maze (SLO). A brasileira Maya Harrisson desceu em 71º e completou a descida em 46º. Vinte e quatro das 88 atletas inscritas não largaram ou não completaram o percurso.

As surpresas da segunda descida foram as austríacas Marlies Schild e Kathrin Zettel, que haviam ficado em sexto e sétimo na primeira descida e fizeram as melhores segundas seguidas, conquistando prata e bronze. Maria Hoefl-Riesch (GER), atual campeã, se desequilibrou em um ponto do percurso, quase perdeu uma porta em outro e fechou apenas em terceiro (terminaria em quarto). Shiffin, última do Top 30 a descer, confirmou o ouro, mas fez só a sexta melhor segunda descida porque quase caiu após se desequilibrar no mesmo ponto em que a alemã perdeu tempo e precisar se apoiar em apenas um esqui pra continuar na prova. Maya fez uma descida irregular, mas novamente completou o percurso, e terminou numa histórica 39ª posição.